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Fake News sobre paracetamol e autismo é desmentida por médica e por órgãos internacionais

Vereador de Barreiras compartilhou tese desacreditada por OMS, União Europeia e especialistas em saúde. Médica pediatra Graça Melo alerta para risco de pânico infundado na população.

Durante sessão recente da Câmara de Barreiras, o vereador Rider Castro usou a tribuna para relacionar, sem comprovação, o uso do paracetamol na gravidez ao aumento de casos de autismo. A fala causou repercussão e preocupação entre profissionais da saúde e famílias da cidade. Rider baseou sua afirmação em declarações feitas pelo atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que voltou a polemizar o tema durante discurso oficial.

A suposta relação entre o medicamento e o transtorno do espectro autista (TEA), no entanto, já foi amplamente desmentida pela Organização Mundial da Saúde, Comissão Europeia, Sociedade Brasileira de Pediatria e diversas instituições médicas de renome. Também não há, até o momento, qualquer recomendação oficial de restrição ao uso do paracetamol por gestantes.

A vereadora e médica pediatra Graça Melo, ao ter a palavra concedida, foi categórica. Segundo ela, a Sociedade Brasileira de Pediatria não reconhece nenhuma ligação comprovada entre o paracetamol e o autismo. Graça classificou como perigosa a divulgação de informações sem base científica.

Pelo amor de Deus, gente. Não vamos viralizar isso por causa de uma matéria sem comprovação. A sociedade médica não tem nenhum dado que confirme essa associação”, disse a pediatra, ao rebater a fala do colega parlamentar.

Apesar do alerta feito por uma profissional da área, Rider voltou a insistir no tema. Declarou que sua fonte era o pronunciamento de Trump e de seu secretário de saúde, Robert F. Kennedy Jr., mesmo sem apresentar qualquer respaldo técnico ou científico.

Em nota recente publicada pelo portal G1, a OMS reafirmou que não há evidência científica conclusiva que ligue o uso do paracetamol ao autismo. Também lembrou que o medicamento é um dos analgésicos mais utilizados e recomendados no mundo, inclusive durante a gravidez, quando prescrito por médicos.

Um estudo sueco de larga escala, citado por especialistas, analisou os dados de mais de 2,4 milhões de crianças e concluiu que não há relação de causa e efeito entre o uso do medicamento por gestantes e o desenvolvimento de transtornos neurológicos. Outros estudos menores, que chegaram a apontar correlações superficiais, foram reavaliados e considerados inconclusivos por falhas metodológicas e ausência de controle sobre variáveis genéticas e ambientais.

Ainda de acordo com a comunidade científica, cerca de 90% dos casos de autismo têm origem genética. O aumento nos diagnósticos ao longo dos últimos anos é explicado, em grande parte, pelo avanço da medicina, mudanças nos critérios clínicos e maior acesso das famílias a serviços de avaliação.

Arthur Ataide Garcia, vice-presidente da Autistas Brasil, lamentou o uso político do autismo e alertou para o perigo de se transformar a condição em discurso de pânico. Ele classificou a fala de Trump como irresponsável e baseada em preconceitos. “É sintomático quando figuras como Kennedy dizem que autistas nunca pagarão impostos ou nunca terão um encontro. Esse tipo de fala nos reduz a estereótipos cruéis”, afirmou.

Em Barreiras, o debate acendeu um alerta entre profissionais da saúde, que temem que o compartilhamento de boatos prejudique a confiança da população em medicamentos e tratamentos comprovadamente seguros. A fala da médica Graça Melo, com anos de atuação e reconhecimento na cidade, serviu como contraponto técnico e responsável diante de uma tentativa de politização de um tema sensível.

A repercussão também mostra a importância de que informações relacionadas à saúde pública sejam tratadas com seriedade e embasamento, principalmente por agentes políticos. A desinformação, quando promovida por figuras públicas, pode gerar consequências graves e desnecessárias.

Tiago Portela
DRT 0889 – Jornalista Responsável
Filiação: Sinjorba | Fenaj
Portal TV Web Barreiras


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