Reunião regional promovida pela AHF discute o impacto das novas tecnologias de prevenção ao HIV e cobra acesso universal aos medicamentos
O encontro destacou o impacto das novas tecnologias de prevenção ao HIV e reforçou a necessidade de ampliar o acesso a medicamentos como a PrEP e a PEP – especialmente em suas formas injetáveis, como o Lenacapavir, fármaco com eficácia próxima de 100% na prevenção do HIV, produzido pela multinacional Gilead.
O painel teve início com a defesa de medidas como o fortalecimento da produção regional de genéricos e o uso de licenças obrigatórias, autorizações que um governo pode conceder para que alguém use uma patente (como a de um remédio) sem precisar da permissão de seus donos.
“A vida e a saúde sempre devem valer mais do que os lucros das farmacêuticas.”, enfatizou Guillermina Alaniz, diretora de Advocacy Global e Políticas Públicas da AHF.
Em seguida, Adriano Queiroz, da Coordenadoria de IST/Aids de São Paulo, apresentou um panorama completo das ações da cidade, destacando especialmente o foco em populações vulneráveis, como pessoas trans, profissionais do sexo, usuários de drogas, pessoas em situação de rua e privadas de liberdade.
A capital paulista serviu de referência no webinário por conta dados apresentados. Atualmente, o município tem mais de 65 mil pessoas cadastradas na PrEP, e mostra uma porcentagem de 92% em relação às pessoas com HIV em tratamento que estão com carga viral indetectável.
Os projetos implementados no município também foram destacados: a oferta das profilaxias através de canais online, unidades móveis e máquinas automáticas que facilitam a testagem e acesso aso fármacos além das parcerias com ONGs e coletivos foram exemplificados como grandes avanços.
Relação entre inovações tecnológicas e desigualdades
Carlos Passarelli, consultor sênior em acesso a medicamentos no Unaids e diretor do Centro Internacional de Cooperação Técnica em HIV/Aids, alertou que, embora medicamentos como o Lenacapavir representem avanços na saúde, eles não resolverão por si só os problemas estruturais como racismo, homofobia, pobreza e desigualdade de gênero. Ele afirmou que é preciso lutar por sistemas de saúde baseados no interesse público, e não no lucro.
“Uma inovação, por mais importante que seja, só é útil se a gente tem acesso a ela”, finalizou.
De acordo com o site oficial da AHF, o tratamento anual para uma pessoa, com duas doses do medicamento, pode custar US$ 45 mil (mais de R$ 250 mil), preço inviável para a maioria da população geral.
Sobre as barreiras impostas pelo sistema de patentes farmacêuticas, Caroline Skopel, da ABIA (Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids), também defendeu o uso de mecanismos legais para solucionar o problema, mostrando dados que comprovam que, quando há concorrência com genéricos, os preços caem drasticamente, o que amplia o acesso.
“Após a centralização das compras e aproximação do fim da patente, o tratamento mensal da leucemia mieloide crônica teve seu custo reduzido em mais de 50% entre 2009 e 2011”, exemplificou em um de seus gráficos apresentados.
Inclusão dos povos originários na agenda de saúde pública
Fernando Chujutalli, da Coalizão Latino-Americana de Povos Indígenas, denunciou a exclusão histórica das comunidades indígenas nas respostas ao HIV. Ele destacou a falta de dados específicos, a ausência de políticas públicas com enfoque intercultural e o alto estigma dentro das próprias comunidades.
Fernando propôs estratégias como formação de agentes de saúde indígenas bilíngues, reconhecimento e respeito pela medicina tradicional desses povos e inclusão dessas comunidades em pesquisas clínicas e tomadas de decisão. Para encerrar, fez questão de reforçar que “Os povos indígenas estão em emergência e perigo de extinção por causa do HIV e do abandono, também precisamos de saúde.”
No encerramento da conferência, os representantes frisaram que os países da América Latina já têm ferramentas legais para garantir o acesso a medicamentos — e que precisam usá-las com coragem e prioridade política. Eles citaram exemplos recentes de regulação de preços e compras públicas centralizadas que reduziram custos em até 90%.
“Unidos, podemos alcançar nossos objetivos: equidade no acesso aos medicamentos, transparência e que as vidas e a saúde sempre valham mais que as ganâncias.”, finalizou Guillermina.
Vinicius Monteiro (vinicius@agenciaaids.com.br)
Fonte: AHF Brasil
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