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Kelly Magalhães: a memória viva de uma mulher que fez política com alma

 Homenagem à ex-deputada estadual que enfrentou perseguições, defendeu a imprensa e marcou para sempre a história política do Oeste da Bahia

Há trajetórias que ultrapassam o tempo, os cargos e os muros do poder. A história de Kelly Adriana Magalhães não é apenas a de uma professora que virou vereadora, deputada e liderança regional. É a de uma mulher que fez da política uma extensão da alma, com coragem para enfrentar, sensibilidade para acolher e firmeza para resistir.

Nascida em Barreiras, no dia 2 de abril de 1969, filha de Nelza Iracema Magalhães, Kelly cresceu em escolas públicas da cidade. Estudou no Colégio Polivalente Professor Alexandre Leal Costa e no Colégio Padre Vieira. Mais tarde, formou-se em Letras Vernáculas pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), onde também coordenou o Diretório Central dos Estudantes do Campus IX. Sua paixão pela educação e pela justiça social floresceu ainda na juventude e nunca mais se apagou.

Iniciou sua vida profissional como comerciária, entre 1986 e 1992, e logo ingressou no movimento sindical. Durante 17 anos, atuou como assessora do Sindicato dos Bancários em Barreiras. Foi ali que formou seu olhar combativo e solidário, que levaria mais tarde para a política institucional. Em 2004, foi eleita vereadora pelo PCdoB e reeleita em 2008. Presidiu a Câmara Municipal de Barreiras por dois períodos e, em 2010, foi eleita deputada estadual, com atuação marcante na Assembleia Legislativa da Bahia entre 2011 e 2015.

Na ALBA, Kelly ocupou espaços estratégicos. Presidiu a Comissão de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia e foi titular das comissões de Direitos da Mulher, Promoção da Igualdade, Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Educação, e da CPI do Tráfico de Pessoas. Também integrou a Subcomissão Especial de Águas e Bacias Hidrográficas e o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. Em 2014, foi vice-líder da bancada da Maioria. Sua presença era de firmeza, mas também de escuta. De força, mas sempre com empatia.

Mesmo fora do poder, Kelly continuava sendo uma voz incômoda para aqueles que queriam impor o silêncio. Em uma das campanhas em que não obteve êxito, sua casa foi perturbada durante a madrugada por carros de som de um vereador recém-eleito. O episódio simbolizava mais do que provocação: era uma tentativa de intimidar alguém cuja presença política ainda era forte demais para ser ignorada.

Pouco depois, subiu à tribuna da Assembleia para denunciar esse e outros abusos que jornalistas e veículos de comunicação de Barreiras vinham enfrentando. Em um dos momentos mais emblemáticos de sua trajetória, Kelly demonstrou que sua luta pela liberdade de expressão ia além das palavras. Era posicionamento. Era coragem. Era consciência de classe.

Essa postura combativa nunca a afastou da ternura. Kelly formou pessoas. Plantou ideias. Inspirou mulheres a entrarem na política, encorajou jovens a se organizarem e ensinou seus assessores a não apenas exercerem funções, mas a carregarem princípios. Muitos dos que hoje atuam na política local ainda carregam gestos, frases e ensinamentos de Kelly Magalhães, mesmo que, por conveniência, tentem ocultar suas raízes.

Negar sua importância pode até ser fácil. Difícil mesmo é provar que sua marca não ficou. Sua trajetória formou uma geração. Seu DNA político vive em rostos diferentes, mas com a mesma coragem diante da injustiça.

Kelly enfrentou o câncer por quase dois anos. Mesmo em tratamento, manteve-se firme, ativa e presente. Faleceu no dia 23 de janeiro de 2022, aos 52 anos, em Salvador. Sua partida causou profunda comoção. O velório foi realizado no plenário da Câmara Municipal de Barreiras, espaço que ela havia comandado com dignidade e bravura. As homenagens se espalharam por todo o Oeste baiano.

Recebeu condecorações como a Comenda Mérito Legislativo da União dos Vereadores do Brasil, o título de Colaboradora Emérita do Exército Brasileiro e o Troféu Soja de Ouro, do Country Club de Rio de Ondas. Mas nenhuma homenagem se compara àquela que está viva no povo que ela tocou.

Hoje, Kelly dá nome a uma escola de tempo integral. Mas sua maior homenagem está onde sempre viveu: na memória coletiva, na luta dos oprimidos, na esperança de quem acredita que a política pode ser feita com alma.

Kelly Magalhães não foi apenas uma parlamentar. Foi um símbolo. E símbolos não morrem. Permanecem onde as ideias continuam respirando, na coragem, na ética e na luta.

Tiago Portela
DRT 0889 – Jornalista Responsável
Filiação: Sinjorba | Fenaj
Portal TV Web Barreiras


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